quarta-feira, 20 de julho de 2022

O MELHOR SÃO JOÃO DE NOSSAS VIDAS?


Encerrado o "Melhor São João de Nossas Vidas" em Bananeiras, como nativa daquela cidade, me sinto no dever de tecer alguns comentários. 

A cidade ficou linda!!! O bom gosto do artista que conduziu a decoração é louvável. A praça então… ficou bela. Parabéns!!!

Em anos anteriores um dos maiores problemas foi a questão da mobilidade urbana. Em dias de grandes atrações o trânsito não fluía, chegando um dia a travar.

Em 2022 esse problema foi sanado com uma excelente organização do sistema de mobilidade. A maior reclamação que ouvi nesse quesito foi com os valores cobrados de estacionamento e de transporte local.

As atrações, embora muito aplaudida pelos jovens, fugiu demais da tradição junina. É dever nosso e do poder público, preservar nossa história, nossa tradição e nossa lei… Lei Municipal sim!!! Nem sertanejo, nem eletrônica, nem religiosa, nem gospel, nem o axé condizem com o nosso Melhor São João Pé de Serra do Mundo. Foi assim que o nossa maior festa ficou conhecida.

É notório que o clima de Bananeiras nessa época do ano é chuvoso e muito úmido e mesmo assim os organizadores da festa não se preocuparam em oferecer um espaço abrigado da chuva. A estrutura do Estádio “O Bezerrão” não recebeu com dignidade os que ali buscaram a diversão. Fora os “Camarotes Arretados” que tinha uma estrutura seca e cara, o resto ficava na chuva e na lama… muita lama subindo no assoalho. Tive a visão imaginaria de uma pocilga ao vê tanta gente com suas roupas arrumadas, toda enlameada.

O São João de Bananeiras não foi uma festa para todos porque era tudo muito caro… bebida, comida… Não se tinha opção… nem pra levar o seu kit, como em festas anteriores. Observei muita gente saindo da festa pra abastecer o seu copo. O terraço da casa de minha mãe foi abrigo para cooler de amigos e parentes.

Espero mesmo que o Melhor São João de Nossas Vidas ainda venha a acontecer na nossa Bananeiras. Que sejam corrigidos os erros cometidos em 2022 para que seja uma festa bonita e organizada. Que tenha boas atrações com os bons artistas nordestinos. Que seja num espaço digno para todos e acessível para nativos e turistas, pobres e ricos. Que seja realmente um São João inesquecível!!!

sábado, 16 de julho de 2022

PASTORAL CARCERÁRIA, MISSÃO PRA VIDA

Conheci o mundo do cárcere na pequena cadeia da cidade de Bananeiras, Pb. Desde bem pequena na sexta-feira santa era costume levar até os presos uma refeição. E assim mais tarde, as visitas foram ficando mais frequentes nas tardes de domingo após a participação em um grupo de oração da Renovação Carismática Católica. Era o ano de 1986.

Só em 1993, quando fui morar na cidade de Guarabira, sede da diocese, tive o primeiro contato com um pequeno grupo de Pastoral Carcerária e logo me juntei a ele. As visitas aconteciam nas quintas-feiras na cadeia pública da cidade transformada em presídio apenas por uma placa. Foram três intensos anos onde pude aprender na prática, como fazer Pastoral Carcerária: visitas, denúncias de maus tratos, celebrações, busca de dignidade para os presos…

Em 1996 por necessidade pessoal fui com a família morar em João Pessoa e já no primeiro mês me apresentei a equipe da Arquidiocese para continuar a atividade missionária que eu já havia adotado pra minha vida.

Na Arquidiocese da Paraíba comecei por integrar a equipe de pastoral carcerária do Presídio do Roger. Na época vivenciamos grandes tragédia naquela unidade. Grandes rebeliões… Chacina… Com o tempo passei a integrar as equipes de outras unidades… e vieram também as perseguições e até prisão.

Na Pastoral Carcerária da Arquidiocese da Paraíba fui coordenadora, integrei o Conselho da Comunidade da Capital, criamos o Comitê Estadual de Prevenção e Combate a Tortura, e  a representamos no Conselho Estadual de Direitos Humanos. Atuei na construção da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), participando como representante da Pastoral Carcerária Nacional para a Questão da Saúde.

Após vinte e cinco anos atuando na Pastoral Carcerária da Arquidiocese da Paraíba retornei em 2021, em plena pandemia da COVID -19 para a cidade de Guarabira e voltei a reintegrar a equipe da Diocese e do pequeno grupo que atua o Presídio Regional João Bosco Carneiro.

A Pastoral Carcerária foi um divisor de águas em minha vida. Foi através dela que fui abrindo a visão para outras áreas me tornando militante dos direitos humanos e do movimento de luta antimanicomial. Por dez anos integrei uma equipe interprofissional de um Caps Ad na cidade de João Pessoa como assistente social.

Atualmente colaboro com a Pastoral Carcerária da Província da Paraíba e do Regional da CNBB do Ne2, mas acima de tudo, a atuação como agente de pastoral carcerária, o contato direto com os irmãos presos é a missão mais importante é gratificante que pude e posso exercer.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

CASA SEM MUROS E SEM TRANCAS



Hoje dezoito anos que papai se foi... E são tantas as lembranças e as lições deixadas por suas atitudes silenciosas…

Uma delas foi a de não gostar de muros nem de trancas. Nossa casa só era fechada na hora de dormir.

Na casa do Beco do Vapor as portas e janelas eram abertas. Tinha uma televisão na sala e os vizinhos se aconchegavam pra vê as imagens tremidas da telinha. Nessa época aconteceu um episódio que ficou marcado. Um dia meu pai adormeceu na sala vendo tv, com as janelas e portas abertas, enquanto todos já estávamos recolhidos. Já muito tarde da madrugada, ele foi acordado por Negreu, um adolescente temido pela cidade. Ele ficou ali velando o seu sono para que ninguém fizesse nenhum mal.

Tantas vezes ja na casa do mercado, um rapaz conhecido por Beto Doido, que perambulava pelas ruas, entrava na casa… Uma vez foi encontrado no escritório de meu pai, com seus óculos deitado no sofá… e por tantas ocasiões foi encontrado na cozinha mexendo nas panelas…

Na nossa casa todos eram e são bem-vindos.

A frente da casa sem muros sempre foi o lugar preferido de meu pai. Lá a tardinha e a noite sentava pra ouvir suas músicas, conversar com a famílias e com quem passava… também ali cochilava muito... e sempre  era acordado por alguém.

Nesses dias a frente de sua casa está sendo arrumada… está sendo feito um calçadão do jeitinho que ele gostava. Podemos até batiza-lo de calçadão “Antônio Mendonça”… com plaquinha e inauguração. Com certeza ele ficará feliz… e por aqui continuará sempre presente em nós e nas bonitas lembranças que ele plantou nos nossos corações.