quinta-feira, 7 de julho de 2022

CASA SEM MUROS E SEM TRANCAS



Hoje dezoito anos que papai se foi... E são tantas as lembranças e as lições deixadas por suas atitudes silenciosas…

Uma delas foi a de não gostar de muros nem de trancas. Nossa casa só era fechada na hora de dormir.

Na casa do Beco do Vapor as portas e janelas eram abertas. Tinha uma televisão na sala e os vizinhos se aconchegavam pra vê as imagens tremidas da telinha. Nessa época aconteceu um episódio que ficou marcado. Um dia meu pai adormeceu na sala vendo tv, com as janelas e portas abertas, enquanto todos já estávamos recolhidos. Já muito tarde da madrugada, ele foi acordado por Negreu, um adolescente temido pela cidade. Ele ficou ali velando o seu sono para que ninguém fizesse nenhum mal.

Tantas vezes ja na casa do mercado, um rapaz conhecido por Beto Doido, que perambulava pelas ruas, entrava na casa… Uma vez foi encontrado no escritório de meu pai, com seus óculos deitado no sofá… e por tantas ocasiões foi encontrado na cozinha mexendo nas panelas…

Na nossa casa todos eram e são bem-vindos.

A frente da casa sem muros sempre foi o lugar preferido de meu pai. Lá a tardinha e a noite sentava pra ouvir suas músicas, conversar com a famílias e com quem passava… também ali cochilava muito... e sempre  era acordado por alguém.

Nesses dias a frente de sua casa está sendo arrumada… está sendo feito um calçadão do jeitinho que ele gostava. Podemos até batiza-lo de calçadão “Antônio Mendonça”… com plaquinha e inauguração. Com certeza ele ficará feliz… e por aqui continuará sempre presente em nós e nas bonitas lembranças que ele plantou nos nossos corações.