Enquanto fiquei lá na praça pra apreciar a entrega dos alimentos do projeto “Prato Cheio” que chegava a Guarabira, sentei um pouquinho com algumas pessoas que moravam na rua e que ali se beneficiavam.
Uma delas me chamou muito a atenção e me comoveu. Ela era conhecida como Paola. Ela tinha características de dependência de álcool... e usava vestido, mesmo com barba e bigode.
Me aproximei e me pus a escutar um pouquinho de sua história. Disse que se sentia mulher e desde bem jovem se vestia daquele jeito.
Aí percebi que as condições da rua não permitiam o cuidado com a aparência…
A bebida com frequência a ajudava viver e a suportar a crueza dos dias e a frieza das noites.
Por um instante demonstrou a vontade de mudar de vida… parar de beber… se cuidar.
Na ocasião pensei que poderia ir buscar um pouco de vida e de Esperança lá na Fazenda Dom Marcelo.
Na mesma ocasião também me questionei… será que a aceitariam lá alguém vestida de mulher?… Não seria uma violação fazê-la se vestir de outra forma?
E eu não mais voltei lá para vê-la.
E agora me chega a notícia de seu falecimento.
Meu coração chorou…
AVC… Trombose… deficiência pulmonar…. é o que vai aparecer no laudo. Mas na verdade a real causa da morte de Paola foi o descaso com a sua vida… o pouco caso com quem está fadada a invisibilidade e destinada a enfrentar “as noites frias e chuvosas das ruas”.
