segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

DR. VITAL - SEU AMOR SUPEROU BARREIRAS


Em um momento de muita tensão, por ocasião de uma transferência mal elaborada pelo secretário administrativo e seus assessores, de internos de João Pessoa para o Serrotão em Campina Grande onde aconteceram varias mortes efetuadas por internos rivais, o Pe. Bosco e eu fomos convidados a acompanhar o Dr. Vital.
Ao chegar áquela unidade encontramos um grande número de pessoas entre elas familiares, jornalistas e curiosos em busca de notícias. No meio ao povo, em um canto sozinho, pude reconhecer seu filho Veneziano. Estava visivelmente preocupado.
Naquela ocasião, em um momento a parte, mostrei ao Dr. Vital o seu filho. Ele olhou, parou um pouco emocionado, e momentos depois continuou o trabalho. Pensando está fazendo o melhor, perguntei se não queria que eu o convidasse para entrar no presídio. Ele disse NÃO sem nenhuma justificativa. Seu silencio sobre a questão me levou a entender a sabedoria de um pai. Por volta das quatro horas da tarde quando estávamos sentados para o almoço no “Bar da Caça” (assim ele chamava a todos os restaurantes) quase vazio, observo que seu olhar emocionado se dirige para a entrada do restaurante. Acompanhando com o olhar vi que atravessava o salão um jovem cabeludo, com lágrimas nos olhos em direção a nossa mesa. Era seu filho Veneziano, “O iluminado” como sempre a ele se referia preocupado com o pai. Na nossa frente se abraçaram e choraram juntos. E o pai em seu silencio contemplativo naquele momento ouvia do filho as palavras de preocupação: “Cuidado pai!”, repetidas veementemente.
Choramos todos juntos, escondendo uns dos outros nossos sentimentos, as nossas emoções.
Naquele momento em que se comentava a bocas miúdas, a inimizade familiar, pude testemunhar que o AMOR verdadeiro supera todas as barreiras.

DR. VITAL DO REGO




Fiz minha graduação na FURNe, na época em que o senhor era o reitor, mas foi pelo meu pai Antonio Mendonça Coutinho, que foi seu aluno e admirador que aprendi também a admira-o. O admirava pelo que me diziam pelo que era publicado, pelo que era propagado ao seu respeito. Poucas vezes o encontrei em eventos, mas, acho que nunca nem o cumprimentei.
Com a sua nomeação como Secretário de Cidadania e Justiça uma chama de esperança brotou em meu peito. Militante como agente de Pastoral Carcerária a muitos anos, pude perceber na sua primeira entrevista que o senhor ia fazer a diferença e ia provar que a minha utopia podia perfeitamente ser realizada.
Junto com o Pe. Bosco, coordenador estadual da Pastoral Carcerária fizemos o primeiro contato que desencadeou inúmeros outros durante a sua permanência na pasta. Sua queixa para nós era uma convocação. Estreitamos os laços e a minha admiração pelo senhor passou a ser uma devoção. As feras (como muitos os consideram) que estavam por trás das grades passaram a ser pessoas merecedoras de direito e dignidade. As rebeliões passaram a ser movimentos reivindicatórios em que nós, o senhor e a Pastoral Carcerária, entravamos nos espaços inflamados, sem nenhuma arma e sem escolta, para acalmar os ânimos. Nenhum tiro, nenhuma morte. O respeito ao ser humano sempre foi primordial.
De fato, o senhor foi o marco no Sistema Penitenciário. Humanizar é possível e foi o senhor que concretizou com suas atitudes e ações o nosso sonho. Nós sabemos que a plenitude só não foi possível por conta da sabotagem de seus comandados incomodados com a moralização do sistema.
Obrigada meu amigo!
Obrigada pelo testemunho, pela amizade, pela atenção, pelo carinho, pelos mimos.
Sentirei muito a falta das suas prosas, das suas graças, das suas broncas.
Saudades da “menina Guiany”.